Desenvolvimento Regional e a permeabilidade dos campos de poder: entre a mobilidade social e a espacial sul-rio-grandenses

Abstract

A presente tese teve como objetivo compreender como os diferentes processos de formação e configuração do campo econômico influenciaram no desenvolvimento das macrorregiões Sul, Norte e Nordeste do Rio Grande do Sul no que tange à mobilidade social ascendente, e de que forma esse contexto se desdobra em mobilidade espacial ao longo da história, utilizando a Teoria Geral dos Campos de Pierre Bourdieu. Buscou-se, primeiramente, demonstrar a aplicabilidade da teoria em análises de âmbito regional por meio de uma discussão teórico-conceitual. A partir disso, foi empreendida uma reconstrução sócio-histórica do processo de ocupação do território e formação do campo econômico das macrorregiões, delineando um comparativo das semelhanças e diferenças nas suas dinâmicas de funcionamento por meio do Método Histórico-Comparativo. E na sequência, foi feita uma sistematização de cada campo econômico à luz dos conceitos da Teoria Geral dos Campos, evidenciando a origem dos mecanismos que contribuíram para os diferentes desfechos nos seus desempenhos, utilizando o Rastreamento de Processos (Process Tracing). De natureza qualitativa, tais escolhas metodológicas se deram em virtude de que o Método Histórico-Comparativo tem boa aplicabilidade aos estudos de caso em que o pesquisador trabalha na comparação de cenários onde os agentes são históricos, enquanto o process tracing é útil na investigação e operacionalização dos mecanismos causais dos fenômenos em determinada conjuntura. Como resultado, foi apresentada a possibilidade de adaptação e aplicação da teoria de Bourdieu aos estudos de desenvolvimento regional, identificando, no caso estudado, os grupos sociais atuantes no campo econômico de cada macrorregião, as suas posições e disposição de capitais. Outrossim, foi possível identificar a origem dos acontecimentos que levaram a diferenças no funcionamento do campo, questão que influenciou nas possibilidades de ascendência social e evidenciou o nível de permeabilidade dos campos, o que por sua vez, se reflete nas movimentações populacionais inter-regionais. Dito isso, o baixo dinamismo do campo econômico da Macrorregião Sul se deu em decorrência de questões como o predomínio do latifúndio; a instabilidade política e territorial; uma estrutura muito desigual e baixa capacidade de mobilidade social em decorrência desse processo. Logo, apresenta um ambiente propício para a mobilidade espacial. O campo econômico da Macrorregião Norte se formou a partir da pequena propriedade introduzida pelas imigrações, e vem caminhando na direção da expansão dos três setores da economia. Contudo, a jovem macrorregião ainda não possui uma base econômica tão dinâmica – estabelecida na agroindústria – o que tem causado um aumento nos movimentos populacionais de saída. O campo econômico da Macrorregião Nordeste teve a mesma base formativa da Sul. Porém, tão logo sofreu a influência de fatores externos, o que por si só é um elemento causador de disparidades; a chegada de imigrantes; a introdução da agricultura como outra atividade produtiva; e, com isso, a constituição de uma sociedade com maior nível de coesão social. Estes elementos colaboraram para a modificação da situação socioeconômica e cultural dessa macrorregião ao longo do tempo, cujo campo econômico demonstrou possuir menos barreiras de acesso às oportunidades e maior diversificação, transformando-a em um foco de atração populacional no estado. PALAVRAS-CHAVE: Desenvolvimento regional; Rio Grande do Sul; Teoria Geral dos Campos; Mobilidade social; Mobilidade espacial.