Efeito disposição na comercialização de grãos: uma investigação junto aos produtores rurais do noroeste gaúcho

Abstract

O termo efeito disposição foi introduzido por Shefrin e Statman (1985) e amplamente estudado por Odean (1998), assim como por Weber e Camerer (1998). Eles elaboraram a explicação desse fenômeno comportamental utilizando a teoria dos prospectos em investimentos. O viés de aversão à perda é exibido como efeito disposição, no qual as pessoas estão prontas para assumir riscos a fim de evitar perdas, mantendo os ativos deficitários por mais tempo. Esse fenômeno comportamental é reconhecido em diferentes contextos. Mattos e Fryza (2014) e Vollmer, Hermann e Musshoff (2019) estenderam essa discussão para a comercialização de grãos, identificando a presença do efeito disposição nesse contexto. Acompanhando tais estudos, esta tese teve como objetivo analisar se o efeito disposição se manifesta nos produtores rurais do Noroeste gaúcho ao comercializarem grãos, apontando razões para o mesmo se fazer presente ou não. Para cumprir esse objetivo, foi conduzido um experimento com cinquenta e cinco produtores rurais do Noroeste gaúcho para compreender suas decisões de comercialização de grãos. Os dados foram analisados de maneira quantitativa com o auxílio do software JASP 0.17.2.1®, incorporando estatística descritiva e análise de regressão linear simples e múltipla. No que se refere aos resultados, inicialmente, foi observado que os participantes do experimento manifestam o efeito disposição, contrariando as expectativas da perspectiva racional da tomada de decisão. Em seguida, constatou-se que a manifestação desse efeito não está relacionada ao viés de aversão à perda, descrito na teoria dos prospectos. Posteriormente, verificou-se que os produtores rurais que utilizam terras arrendadas de terceiros exibem um efeito disposição mais pronunciado do que aqueles que utilizam somente terras próprias. Por fim, foi demonstrado que a estratégia de stop loss é um instrumento com potencial de mitigar o efeito disposição na comercialização de grãos. Em síntese, o efeito disposição parece causar prejuízos aos produtores, mas a irracionalidade associada a ele pode ser reduzida com a adoção de estratégias disciplinadas de comercialização. Os resultados desta pesquisa evidenciam que a abordagem comportamental pode desempenhar um papel crucial no incremento da renda dos produtores rurais do Noroeste gaúcho. Obviamente o desenvolvimento regional não deve ser exclusivamente associado ao aumento da renda, mas deve abranger também fatores sociais, culturais, ambientais e políticos, acompanhado da melhoria na qualidade de vida. No entanto, o aumento da renda não é apenas benéfico para esses indivíduos, mas também contribui para a redução da desigualdade e do êxodo rural, e estimula a economia local e o desenvolvimento regional sustentável.