Mulheres analfabetas e inscrições de suas heranças : aproximações e distanciamentos na educação de suas filhas
Carregando...
Data
2019-07-24
Autores
Título da Revista
ISSN da Revista
Título de Volume
Editor
Resumo
Os índices de analfabetismo retratam a dívida educacional brasileira, pois gerações de diferentes
classes sociais vivenciaram o acesso desigual à escolarização. A tese analisa como as mulheres,
pouco ou não escolarizadas, que se declaram analfabetas, se inscrevem e inscrevem suas
heranças no contexto da sociedade grafocêntrica. Compreende o que se aproxima e o que se
distancia na trajetória de vida dessas mulheres em relação à educação das suas filhas. Parte das
seguintes perguntas de pesquisa: Quais são as dimensões do lugar social que as mulheres
analfabetas almejam para suas filhas? Quais foram os movimentos na educação das filhas que
permitiram acesso a esse lugar almejado? Como e por que é atribuída à escola (a qual não teve
centralidade na sua vida) essa função social? As mulheres analfabetas reconhecem quais outros
condicionantes interferem nesse movimento de proximidade e distanciamento na vida das suas
filhas? Operou-se metodologicamente na análise do discurso na perspectiva dos enunciados, com
inspiração nos princípios da arqueologia e genealogia de Foucault, produzida a partir de
entrevistas-narrativas. Essa pesquisa, num primeiro movimento, discute as dimensões da “dívida
educacional”, trata o analfabetismo como herança educativa e traz sete mulheres egressas do
Programa Mulheres Mil como foco de análise. Do conjunto dessas análises depreendeu-se que as
configurações das heranças educativas do analfabetismo abrangem o contexto histórico, social e
político em que a escolarização das mulheres praticamente não existiu, também envolve a
ausência e assistematicidade das políticas do governo brasileiro no que se refere à alfabetização
de adultos. Identifica-se como estratégias de inscrição das mulheres analfabetas numa sociedade
centrada em processos de leitura e escrita, a espontaneidade de sua cultura oral, a humildade em
solicitar auxílio quando necessitam ler e escrever, o estabelecimento de confiança com “a
escriba”, a persistência na realização dos trabalhos informais, o desenvolvimento de outras
habilidades e inclusive a valorização do estudo das novas gerações. No segundo movimento de
análise, discute a compreensão a respeito de como duas dessas mulheres inscreveram suas
heranças educativas para com suas filhas. As análises nessa segunda parte, destacam
aproximações de alguns elementos em relações as heranças educativas que continuam, e mesmo
se flexibilizando, configuram um tom de familiaridade. Também, verificaram-se distanciamentos
que instauram rupturas e individualizações, rumo às reconfigurações das heranças. Dois
destaques discursivos foram localizados: o discurso recorrente de “dar às filhas a
escolarização que não tiveram”; e por outro lado, a delegação das heranças educativas “a
gente cria, e pensa agora é contigo.” As filhas herdeiras responderam de formas diversas ao
movimento empreendido pelas mães na inscrição de suas heranças educativas, porém, os
elementos que as identificam e posicionam são o “não mais” analfabetas e o “ainda não”
plenamente escolarizadas pautando o quanto as heranças educativas do analfabetismo, ainda,
afrontam diversas gerações familiares das classes populares.
Descrição
59 f.
Palavras-chave
Ciências humanas., Educação., Heranças educativas., Gerações., Mulheres., Analfabetismo., Classes populares.