Análise das características empreendedoras dos agricultores de Cândido Godói que contribuem para o desenvolvimento local

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2015-06-16

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O termo agricultura familiar abrange grupos com uma ampla diversidade de recursos físicos, financeiros, humanos e sociais, que podem mudar em cada país ou região (FAUTH, 2008). Pode-se entender através da afirmação teórica, que um grupo de agricultores, localizado em uma mesma região do país, tivessem características bem específicas e que, por esta razão, o desempenho dos membros deste grupo variasse muito pouco. Na atualidade, porém, não se tem comprovado essa teoria. Isso se dá pelo fato de que em uma mesma região é possível encontrar alguns agricultores familiares com propriedades desenvolvidas e outros que trabalham fundamentalmente para subsistência, comercializando apenas o excedente de sua produção (LIMA, 2010). O presente estudo pretende colaborar para o desenvolvimento de pesquisas acerca do tema empreendedorismo rural, dando um enfoque à agricultura familiar local. Questões associadas principalmente às características do empreendedor, aplicada aos agricultores familiares do município de Cândido Godói, foram estudadas de modo a analisar quais são as que contribuem para o fortalecimento do desenvolvimento do município. A coleta de dados se deu através de uma pesquisa exploratória e descritiva. Exploratória, pois buscou expandir conhecimentos sobre o tema, explorando um assunto ainda não estudado no município. Descritiva porque descreve as características da população, e estabelece correlações entre as variáveis (GIL, 2002). Foram aplicados questionários estruturados a 40 agricultores familiares do município de Cândido Godói/RS, associados da COOPERGER, através de uma amostra não probabilística. O questionário aplicado inclui questões que contavam com a escala de Likert de concordância, perguntas de múltipla escolha, perguntas abertas e com escalas ordinais. Para a análise das informações obtidas referente ao diagnóstico das características do empreendedor encontradas nos agricultores familiares de Cândido Godói, que potencializam o desenvolvimento local, utilizou-se a análise de conteúdo. Utilizou-se também para a análise dos dados a distribuição de frequência e média ponderada. Dados obtidos do censo do ano de 2010 do IBGE (2012) apontam que 71,75% da população do município de Cândido Godói é rural. Outros dados do IBGE (2012) complementam a importância da agricultura familiar para o município, pois no ano de 2010, o Produto Interno Bruto (PIB) do município constituía-se em 11,55% para a indústria, 38,95% para a agropecuária e 49,50% para serviços. Dos 40 agricultores pesquisados, 22% estão entre 46 e 50 anos, 15% estão na faixa de 26 a 30 anos, outros 15% encontram-se na faixa de 41 a 45 anos. A amostra foi em sua totalidade do sexo masculino. Outro dado interessante é que 60% dos pesquisados possuem a escolaridade igual ou superior ao ensino médio completo, identificando que há uma busca de qualificação cada vez maior, mesmo na atividade rural, que podem ser resultados do incentivo pela permanência do homem no campo. Do total de 40 agricultores pesquisados, 60% sempre foram agricultores e em nenhum momento deixaram a atividade rural. Outros 22% informam que são agricultores e tem empresa rural, mas possuem outra atividade não rural, não especificada. Já 18% responderam que atualmente são agricultores, mas já tiveram outra atividade não rural, desligando-se da agricultura por um período retornando novamente para a atividade rural. Quanto à principal atividade realizada na empresa rural 55% dos pesquisados responderam ser a atividade leiteira, seguido pela produção de grãos com 40% do total. A análise das características essenciais para um ímpeto empreendedor, que são a necessidade de realização, disposição para assumir riscos e autoconfiança tiveram alto índice de concordância entre os pesquisados. A característica de necessidade de realização obteve uma concordância elevada com 57,5% do total. 30% dos pesquisados concordam apenas que essa atitude é essencial para o empreendedor. A disposição para assumir riscos obteve 40% de total concordância, e 47,5% concordaram com a atitude. Dornelas (2014) salienta que o processo de empreender exige que os riscos sejam assumidos, e as decisões devem ser críticas, tomadas, e é necessário ousadia e ânimo, ainda que haja falhas e erros. Devem-se aproveitar os erros para adquirir experiência em novas decisões. A característica pertinente a autoconfiança teve uma concordância total de 70% dos agricultores rurais de Cândido Godói. Chiavenato (2012, p.13) afirma que “quem possui autoconfiança pode enfrentar galhardamente os desafios que existem ao seu redor e tem domínio sobre os problemas que enfrenta”. A característica referente a busca de oportunidades e iniciativa teve 60% de total concordância dos pesquisados. A característica referente a busca de informações obteve 65% de total concordância. “Muitas vezes o agricultor fica no campo e deixa de buscar informações sobre o mercado e outras oportunidades, mas o bom produtor acompanha as mudanças na política do governo, procura os órgãos públicos e a cooperativa para auxiliar no desenvolvimento dos investimentos”, afirma Cella (2002, p.56). A característica da persistência obteve resultados positivos com 67,5% de total concordância, sendo que 25% concordam e 7,5% dos pesquisados concordam ligeiramente. Já os resultados da característica de persuasão demonstram que 42,5% dos agricultores de Cândido Godói concordam totalmente com a atitude, outros 27,5% concordam, e concordam ligeiramente também 27,5% dos pesquisados. Allemand (2007) afirma que o empreendedor sempre amplia sua rede de contatos e mantém contato constante, pois nunca se sabe quando vai precisar deles. Em relação à característica de comprometimento obteve-se o resultado de 70% de concordância total. A característica de inovação obteve 35% de total concordância, e 52,5% de concordância. Para Chiavenato (2012) a capacidade criativa e inovadora de um empreendedor são, em geral, são instigadas pela sua necessidade de realização, sua disposição de assumir riscos e sua autoconfiança. A característica de liderança obteve 35% de total concordância e 27,5% de concordância. Já 35% dos agricultores concordam ligeiramente com a atitude, havendo também uma pequena discordância, o que faz perceber que a liderança é uma característica a ser fortalecida entre eles. Cella (2002) ressalta o bom produtor não é centralizador e deve ter a habilidade de fazer com que todos os envolvidos nas atividades da propriedade compreendam os objetivos e tenham atitudes para ajudar a alcançá-los. A característica de reconhecimento de oportunidades apresenta que 35% dos pesquisados concordam totalmente, e 47,5% concordam ser uma característica empreendedora importante. A característica de autonomia apresenta que 47,5% dos pesquisados discordaram da atitude que se reporta a capacidade do empreendedor em realizar as tarefas individualmente e 7,5% discordam totalmente, constatando que as maiorias dos agricultores consideram que não é possível a realização de todas as tarefas sozinhos da propriedade rural. Em função disso, analisa-se que os agricultores demonstram o valor que depositam na família, pois para a grande maioria é mais interessante ter a família para dividir as tarefas, as decisões a serem tomadas do que realizar tudo sozinho. A característica empreendedora de orientação para resultados 50% dos pesquisados concordam e 30% concordam totalmente. Em relação à característica de otimismo 50% dos agricultores concordam totalmente, e outros 37,5% concordam que é importante pensar positivamente. Referente a característica de habilidade na utilização dos recursos apresenta que 50% concordam ligeiramente com a importância de possuir conhecimento e experiência para utilizar todos os recursos disponíveis. Canziani (2001) afirma que a administração eficiente em uma empresa rural, engloba a competência em saber utilizar racionalmente os recursos físicos, financeiros, humanos e mercadológicos da propriedade para fins de obter resultados satisfatórios e contínuos e que atinja os objetivos estipulados. A característica empreendedora de sensibilidade com o próximo obteve uma avaliação positiva com 65% de concordância total. A característica do empreendedor que se refere a tendência de confiar nas pessoas demonstra que 35% dos agricultores concordaram ligeiramente, 27,5% discordam, e 5% discordam totalmente da atitude. Cella (2002) ressalta que o bom produtor sabe diferenciar as oportunidades de negócios e identificar dentre os demais agricultores de sua comunidade aqueles que são merecedores de confiança para firmar parcerias. Os resultados referentes à característica de tolerância a incertezas mostram que 37,5% concordam, já outros 35% concordam ligeiramente. O risco e a incerteza serão aos poucos incorporados a analises de investimento nas empresas rurais, pois o acesso ao crédito deverá dar uma atenção a elaboração de projetos com um planejamento de fluxos sazonais, que preveem situações desfavoráveis e oportunidades (CANZIANI, 2001). Após a análise das características empreendedoras investigou-se os dez elementos que são importantes no desenvolvimento de um novo negócio Lima (2010). A maior média com 7,33 indica o apoio da família como o elemento de maior importância para os agricultores no momento de desenvolver sua própria empresa rural. Na sequência com média de 6,53 aparece o elemento correspondente a própria iniciativa e coragem para desenvolver seu negócio, que reforça a disposição de assumir riscos dos agricultores godoienses. A persistência obteve média de 4,88 e é a terceira colocada. Na sequência, encontra-se o elemento referente ao surgimento de uma oportunidade, que atingiu a média de 4,65. A experiência de vida obteve média de 4,23 e é quinta colocada. Em seguida apresenta-se o exemplo de experiência de outras pessoas, que atingiu média de 4,08. Com média de 3,75, a necessidade de crescer apresenta-se em sétimo lugar. O apoio da cooperativa de crédito/produção ficou em oitavo lugar, com a média de 3,48. Em nono lugar, a assistência técnica, que atingiu uma média de 3,45. Com média de 3,2 a obtenção do crédito, classificou-se em décimo lugar, mas isso não quer dizer que ele não é necessário, mas sim, entre os demais, se torna menos importante. Para Tomei et al (2008), os estudos em torno do tema empreendedorismo têm se direcionado também para o papel das motivações que trabalham como o combustível necessário a ação empreendedora. No estudo essa questão englobou quatro perspectivas de motivação para investir no negócio, as quais foram criadas após a tabulação das respostas, em função do objetivo proposto, são elas: inovação, tecnologia, expansão e sobrevivência. As características inerentes à necessidade de realização, disposição para assumir riscos e autoconfiança, são analisadas pelos agricultores como importantes para o perfil de um empreendedor, o que pode caracterizar que eles possuem também esses elementos básicos do empreendedor, ou ainda, entendem que no setor rural essas características podem vir a crescer o desenvolvimento. Os agricultores manifestam uma forte motivação para a realização, e neste processo de realização demonstram uma postura moderada de propensão a assumir riscos. A preferência pelo risco moderado indica que o agricultor seja um sujeito autoconfiante. Outras características que vem a fortalecer o desenvolvimento local é a busca de oportunidades e iniciativa e a busca de exigência de qualidade e eficiência. A persistência é outro fator chave para o desenvolvimento local do município, pois para os agricultores revelam grande importância no seu significado. A independência e confiança são características que também se destacaram pela alta concordância dos agricultores pesquisados e que são significantes no processo de desenvolvimento local, pois se o agricultor acredita em si mesmo e na sua capacidade, ele também luta pela sua classe. O fortalecimento de um município, ou de determinada região não acontece só com o empenho de uma pessoa, mas sim, com a determinação de todos os envolvidos. A característica empreendedora de sensibilização com o próximo também obteve destaque pela alta concordância, e analisa-se que o agricultor do município percebe a importância de se desenvolver novos recursos para beneficiamento da sociedade em geral. A liderança é uma característica que deve ser fortalecida entre os agricultores, pois identificou-se que é um aspecto a ser melhorado e que tem importância no desenvolvimento local, pois os agricultores são agentes dessa evolução local devido à importância que possuem para o município. Esse resultado se compara também a capacidade de persuasão dos agricultores. Outra questão que teve bastante valorização no estudo pelos agricultores é a educação na gestão da empresa rural. Mesmo 60% dos pesquisados possuírem no mínimo o 2º grau, ainda há 20% que não possuem o 1º grau completo. A educação formal, ou melhor, a falta dela, se configura como um fator negativo ao desenvolvimento local. A educação influencia a capacidade de aprendizagem, de persuasão, liderança e, por conseguinte, a sua capacidade empreendedora. Conclui-se pelo estudo também que uma minoria de agricultores familiares tem na sua atividade a simples tarefa da sobrevivência, de manter a propriedade, a renda da família e proporcionar estudos aos filhos para que tenham melhores condições que eles tiveram. Já a maioria possui objetivos e sonhos para seu negócio rural que lhes dão motivação para crescer, tais como: investir em tecnologia, expandir, ampliar e inovar os processos da propriedade. Possuem a necessidade de crescer e que o investimento no seu setor lhes traz retornos benéficos.

Descrição

123 f.

Palavras-chave

Ciências Sociais Aplicadas, Administração, Empreendedor rural, Agricultura familiar, Desenvolvimento local

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